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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Neirinho bom de prosa

  • Outro poema para crianças (e adultos). Acho que a Daniele vai gostar.   

Eta fala saborosa
do Neirinho bom de prosa!

Fala pobrema e vrido,
já ouvi até ruildo.
Pra pedir mais salpicão,
inventa o tar sarapicão.

Conta causos sem parar,
que até faz desconfiar.
Que trem nessa língua enrola,
que não aprendo na escola?


Mas a nossa diferença
não vejo como doença,
nem merece a nossa ofensa.
É só jeito de nascença


- que tem lá sua conhecença !


Eta fala saborosa
do Neirinho bom de prosa!

Caco-cola



Este videopoema é uma recriação, com recursos semióticos distintos, do famosíssimo texto de Pignatari, "Coca-Cola". Vale a leitura, não só pelo surpreendente "cloaca" invasivo/arrotado e pelo final "rockinrio". Puro pastiche! O eixo da composição é o processo de "destruição" do "monstro-estereótipo" (vide Barthes) e sua ideologia gosmenta, aqui transfigurado no som impactante das garrafas que se quebram em cacos/palavras. É isso aí!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Delito literário

Fachada de uma livraria na rua Lavalle, Buenos Aires. Quem viu primeiro o motivo  foi meu genro Rubens - o Ilustrador. Fotografei e depois fiz a intervenção: a foto do meu rosto, em alto-contraste, do lado direito.  

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Beijo ! roubado

  • Outro videopoema. Este faz parte de uma série de haicais cinéticos. Gravei em outra resolução, no videomaker, parece-me que  a visualização em tela cheia  melhorou.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Haicais

  • Eis os primeiros sete haicais da série Sendas de Bashô. É um projeto que ficou na gaveta também por um bom tempo (dez anos!). É o meu exercício de poesia em outra chave. Alguns estiveram, como pôsteres, numa exposição do Mackenzie, em 1999, se eu não me engano. E alguns também foram publicados no primeiro número da revista Todas as Letras, do Mackenzie.

Sendas de Bashô

O jardim

O jardim. Precioso tecido de avencas, musgo, lua, camélias e romãs, outros verdes, claros e noturnos tons, seixos e água, folhas de pele seca, carpas, pássaros, lendas e vento, sereno madruga no tempo. O país e suas escuras sendas.

A um longe - o jardim
R (astro) entre antigas pedras
Pa (ra) lavra viva

As carpas

Adivinhar as carpas na água em movimento. O que dizem as carpas fugidias, resvalando no leito/lama ?

Translúcida ... lâmina
L’ ânima trêmula fulva
In profundo flúmen

O bonsai

O bonsai e seu código. A delicada e paciente arte nas mãos do escultor do tempo: a poda de raízes para preservar a vida, o desenho nos rebentos, antevendo futuros, velho galho rugoso. Jins e sharis. As múltiplas - mas limitadas - possibilidades de movimento: fukinagashi, kengai, bujingi, neagari, moyogi ... Na fina bandeja de porosa argila, a pequena árvore habita o coração do olhar. Repousa, viva, a eterna ausência.

Árvore em flor
As (t) ramas da angústi
Ante ilusão do instante


O jardim de pedras

Na tradição oriental, o jardim de pedras é um espaço zen. Sobre o chão, um tapete de seixos, cascalhos, ou areia grossa. Nesse leito mineral rarefeito, dispõem-se, em irregular harmonia, pedras/rochas de tamanhos variados. Eis que brota, orgânico, o haikai.

Dor me leve a pedra
Sobre os cascalhos do tempo
Ser ao sopro um dia



O velho

A ponte em curva sobre o riacho e nuvens vermelhas de fim de tarde. Por instantes, o vento silencia: cabelos brancos, rugas no olhar, cicatriz.

Deslizando ao poente ...
Sol – um velhote vê da ponte –
Fio d’água ridente


A lanterna

Da água à terra, das mãos ao fogo, entre as ameixeiras, ao pé da varanda, com seu quase não brilho, diz ao viajante da noite esta lanterna: A casa é também sua. Entre.

Olhar do jardim noturno
Pulsante (re) vela
Luz de silêncio: jasmim


Silêncio noturno

Só mesmo a palavra pode revelar o indizível da noite. Só nela canta o pássaro seu silêncio em agonizante gozo. E nesses sons se esconde a música que não existe a não ser nesses sons. Irônico sorriso esse da noite.

Entre brisas e grilos
O pássaro silencia
E captura um sorriso


Poema

  • Imago
  1. A mulher se desenha a lápis, sombra, rímel, blush, batom. Define assim sua beleza, o arco-íris dos olhos, as curvas da água da boca, fruta fresca, na tela-espelho da manhã.
  2. Mais bem desenha-se a mulher, porém, em outro olhar-paisagem, leve chiaroscuro, indelével debuxo, com os esfuminhos (apagada em sua presença) da alma: só o véu, do fantasma.
poemas para crianças


 
  • Aqui vocês podem ler alguns poemas feitos especialmente (mas não exclusivamente) para crianças. Pertencem à série Na roda da redondilha. Foram escritos em fevereiro e março de 2004, logo depois que o João nasceu. É uma homenagem a ele! A cada semana a página ganhará um novo poeminha, até completar a série. Este primeiro é bem bakhtiniano... Valete fratres!

  • Brincar com palavras
Brincar com palavras, sim,
por que não? Maior barato!

Brinquedo que não tem fim
e que não custa quase nada.

Joguinho muito, muito barato
e até encanta! Mesmo, de fato!

Provoca tanta risada...
e nasce feito capim.

Mas, atenção: cuidado tem de ter:
a mesma palavra pode ser...

 
às vezes... um elogio,
um som todo macio...

 
E às vezes... um palavrão!
Provocando baita confusão!

 

 
  • Dançar QuaDrilha
Chegou cheia de alegria:
- Mãe, olha o que disse a tia,
que em junho - maravilha! -
vou mesmo dançar quadrilha!

Dançar quadrilha!

Cheia de orgulho e vaidade,
a mãe, só felicidade,
comprou vestido rodado,
ornou com fita e babado.

 
Sua filha ... dançar qua-dri-lha!

 
E passou o mês de maio
cochichando com a vizinha,
alterou tanto a rotina,
quase chegou ao desmaio.

 
Porque ela ia ... dançar quadrilha!

 
No dia da festa junina
faz trancinha na menina
ruge e baton na carinha
meia sapato fitinha ...

 
Afinal, ela era a sua filha!
Que ia dançar... qua-dri-lha!

 
Eis que na exata hora,
ajeitando sua presilha,
todos já indo pra escola,
confusa pergunta a filha,

 
pra sua mãe que quase chora:
Mas, mãe, quem é essa tal de Drilha?

 

  • É bigo, é bigo e pronto!

Num tinha jeito o moleque.
Nada de falar “umbigo”.
Nem ligava pra castigo
o teimoso serelepe.

Dizia: É bigo! É bigo!
O certo é bigo, e pronto!
E a tia, no contraponto,
Não é bigo, é umbigo!

 
Fulo da vida, uma vez,
respondeu logo depois:
É um bigo,sim, Doninês,
cê pensou que era dois?

 

 

 

 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Poema antigo

  • Este poema é de 1985, um dos poucos que se salvaram... do naufrágio.  Nele me agrada em especial o ritmo sufocante, dispnéico, embora as imagens me apareçam, hoje, envelhecidas. Mas o conjunto é saboroso. Demorou muito para que as soluções formais se equilibrassem, eu me lembro, foi escrito e reescrito muitas vezes, até que o verso alexandrino e seus pés quebrados salvaram o texto. Está aí a memória transfigurada: o efeito que ficou, desde a infância, do inferno de Dante. (Aliás, com quem ficou aquela edição da Divina Comédia do vovô?)


Ambíguas fecundas adversas águas, águias
Afiadas no inferno sonoro do verso,
Espuma-espadas de amor e corte, vertendo
O fel de um coração submerso, a pulsar
A pulsar, a pulsar... Quem poderá impedir
Este ritmo suicida, a explosão delírica?


Não importa, não importa o abnegado corpo
Mas estas escamas, sílabas laminadas
Ardentias desfazendo-se em canto, vagas
De prateada e incontida ilusão...


O mais é o mar, exausto ao largo, deus
Adormecido em teus braços, como um pássaro,
Pássaro-poema lançado na gravidez
Das ondas, que te devolvem à superfície
Do texto: bóia plácida a reluzente incógnita.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Alguns outros poemas...


O mais contundente:


Claro que existe vida após a morte.
A vida dos outros.



in absentia


toda manhã a generosa fatia de mamão maduro no beiral da janela da sala entardece bicadinha até os ossos da casca

nesta manhã – sem mamão maduro – agradece a cagadinha brancoesverdeada no braço esquerdo do sofá da sala



na casa da mãe

sobre o corpo o cobertor antigo esgarçado e puído do menino que ainda fui cobre os ossos gelados mergulhados como que na friagem de um lago mas nem a quente manta com que a memória tece a alma aquece