- Outro haicai em videopoema. É o segundo da série "Siderais", que por sua vez pertence ao livro Sendas de Bashô. A ideia é simples: em passeio por um jardim noturno, o humano lança o olhar para o céu de palavras... : o desejo é esse mar de vazios, o mar desiderium. Veja e ouça em alto volume, para também curtir o barato da música em céu de Spielberg - ninguém pintou um céu noturno como Spielberg!
segunda-feira, 7 de março de 2011
Siderais II
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Neirinho bom de prosa
- Outro poema para crianças (e adultos). Acho que a Daniele vai gostar.
Eta fala saborosa
do Neirinho bom de prosa!
Fala pobrema e vrido,
já ouvi até ruildo.
Pra pedir mais salpicão,
inventa o tar sarapicão.
Conta causos sem parar,
que até faz desconfiar.
Que trem nessa língua enrola,
que não aprendo na escola?
Mas a nossa diferença
não vejo como doença,
nem merece a nossa ofensa.
É só jeito de nascença
- que tem lá sua conhecença !
Eta fala saborosa
do Neirinho bom de prosa!
Caco-cola
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Delito literário
Fachada de uma livraria na rua Lavalle, Buenos Aires. Quem viu primeiro o motivo foi meu genro Rubens - o Ilustrador. Fotografei e depois fiz a intervenção: a foto do meu rosto, em alto-contraste, do lado direito.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Beijo ! roubado
- Outro videopoema. Este faz parte de uma série de haicais cinéticos. Gravei em outra resolução, no videomaker, parece-me que a visualização em tela cheia melhorou.
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Haicais
- Eis os primeiros sete haicais da série Sendas de Bashô. É um projeto que ficou na gaveta também por um bom tempo (dez anos!). É o meu exercício de poesia em outra chave. Alguns estiveram, como pôsteres, numa exposição do Mackenzie, em 1999, se eu não me engano. E alguns também foram publicados no primeiro número da revista Todas as Letras, do Mackenzie.
Sendas de Bashô
O jardim
O jardim. Precioso tecido de avencas, musgo, lua, camélias e romãs, outros verdes, claros e noturnos tons, seixos e água, folhas de pele seca, carpas, pássaros, lendas e vento, sereno madruga no tempo. O país e suas escuras sendas.
A um longe - o jardim
R (astro) entre antigas pedras
Pa (ra) lavra viva
As carpas
Adivinhar as carpas na água em movimento. O que dizem as carpas fugidias, resvalando no leito/lama ?
Translúcida ... lâmina
L’ ânima trêmula fulva
In profundo flúmen
O bonsai
O bonsai e seu código. A delicada e paciente arte nas mãos do escultor do tempo: a poda de raízes para preservar a vida, o desenho nos rebentos, antevendo futuros, velho galho rugoso. Jins e sharis. As múltiplas - mas limitadas - possibilidades de movimento: fukinagashi, kengai, bujingi, neagari, moyogi ... Na fina bandeja de porosa argila, a pequena árvore habita o coração do olhar. Repousa, viva, a eterna ausência.
Árvore em flor
As (t) ramas da angústi
Ante ilusão do instante
O jardim de pedras
Na tradição oriental, o jardim de pedras é um espaço zen. Sobre o chão, um tapete de seixos, cascalhos, ou areia grossa. Nesse leito mineral rarefeito, dispõem-se, em irregular harmonia, pedras/rochas de tamanhos variados. Eis que brota, orgânico, o haikai.
Dor me leve a pedra
Sobre os cascalhos do tempo
Ser ao sopro um dia
O velho
A ponte em curva sobre o riacho e nuvens vermelhas de fim de tarde. Por instantes, o vento silencia: cabelos brancos, rugas no olhar, cicatriz.
Deslizando ao poente ...
Sol – um velhote vê da ponte –
Fio d’água ridente
A lanterna
Da água à terra, das mãos ao fogo, entre as ameixeiras, ao pé da varanda, com seu quase não brilho, diz ao viajante da noite esta lanterna: A casa é também sua. Entre.
Olhar do jardim noturno
Pulsante (re) vela
Luz de silêncio: jasmim
Silêncio noturno
Só mesmo a palavra pode revelar o indizível da noite. Só nela canta o pássaro seu silêncio em agonizante gozo. E nesses sons se esconde a música que não existe a não ser nesses sons. Irônico sorriso esse da noite.
Entre brisas e grilos
O pássaro silencia
E captura um sorriso
Poema
- Imago
- A mulher se desenha a lápis, sombra, rímel, blush, batom. Define assim sua beleza, o arco-íris dos olhos, as curvas da água da boca, fruta fresca, na tela-espelho da manhã.
- Mais bem desenha-se a mulher, porém, em outro olhar-paisagem, leve chiaroscuro, indelével debuxo, com os esfuminhos (apagada em sua presença) da alma: só o véu, do fantasma.
poemas para crianças
por que não? Maior barato!
Brinquedo que não tem fim
e que não custa quase nada.
Joguinho muito, muito barato
e até encanta! Mesmo, de fato!
Provoca tanta risada...
e nasce feito capim.
Mas, atenção: cuidado tem de ter:
a mesma palavra pode ser...
às vezes... um elogio,
um som todo macio...
E às vezes... um palavrão!
Provocando baita confusão!
- Mãe, olha o que disse a tia,
que em junho - maravilha! -
vou mesmo dançar quadrilha!
Dançar quadrilha!
Cheia de orgulho e vaidade,
a mãe, só felicidade,
comprou vestido rodado,
ornou com fita e babado.
Sua filha ... dançar qua-dri-lha!
E passou o mês de maio
cochichando com a vizinha,
alterou tanto a rotina,
quase chegou ao desmaio.
Porque ela ia ... dançar quadrilha!
No dia da festa junina
faz trancinha na menina
ruge e baton na carinha
meia sapato fitinha ...
Afinal, ela era a sua filha!
Que ia dançar... qua-dri-lha!
Eis que na exata hora,
ajeitando sua presilha,
todos já indo pra escola,
confusa pergunta a filha,
pra sua mãe que quase chora:
Mas, mãe, quem é essa tal de Drilha?
Num tinha jeito o moleque.
Nada de falar “umbigo”.
Nem ligava pra castigo
o teimoso serelepe.
Dizia: É bigo! É bigo!
O certo é bigo, e pronto!
E a tia, no contraponto,
Não é bigo, é umbigo!
Fulo da vida, uma vez,
respondeu logo depois:
É um bigo,sim, Doninês,
cê pensou que era dois?
- Aqui vocês podem ler alguns poemas feitos especialmente (mas não exclusivamente) para crianças. Pertencem à série Na roda da redondilha. Foram escritos em fevereiro e março de 2004, logo depois que o João nasceu. É uma homenagem a ele! A cada semana a página ganhará um novo poeminha, até completar a série. Este primeiro é bem bakhtiniano... Valete fratres!
- Brincar com palavras
por que não? Maior barato!
Brinquedo que não tem fim
e que não custa quase nada.
Joguinho muito, muito barato
e até encanta! Mesmo, de fato!
Provoca tanta risada...
e nasce feito capim.
Mas, atenção: cuidado tem de ter:
a mesma palavra pode ser...
um som todo macio...
Provocando baita confusão!
- Dançar QuaDrilha
- Mãe, olha o que disse a tia,
que em junho - maravilha! -
vou mesmo dançar quadrilha!
Dançar quadrilha!
Cheia de orgulho e vaidade,
a mãe, só felicidade,
comprou vestido rodado,
ornou com fita e babado.
cochichando com a vizinha,
alterou tanto a rotina,
quase chegou ao desmaio.
faz trancinha na menina
ruge e baton na carinha
meia sapato fitinha ...
Que ia dançar... qua-dri-lha!
ajeitando sua presilha,
todos já indo pra escola,
confusa pergunta a filha,
Mas, mãe, quem é essa tal de Drilha?
- É bigo, é bigo e pronto!
Num tinha jeito o moleque.
Nada de falar “umbigo”.
Nem ligava pra castigo
o teimoso serelepe.
Dizia: É bigo! É bigo!
O certo é bigo, e pronto!
E a tia, no contraponto,
Não é bigo, é umbigo!
respondeu logo depois:
É um bigo,sim, Doninês,
cê pensou que era dois?
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Poema antigo
- Este poema é de 1985, um dos poucos que se salvaram... do naufrágio. Nele me agrada em especial o ritmo sufocante, dispnéico, embora as imagens me apareçam, hoje, envelhecidas. Mas o conjunto é saboroso. Demorou muito para que as soluções formais se equilibrassem, eu me lembro, foi escrito e reescrito muitas vezes, até que o verso alexandrino e seus pés quebrados salvaram o texto. Está aí a memória transfigurada: o efeito que ficou, desde a infância, do inferno de Dante. (Aliás, com quem ficou aquela edição da Divina Comédia do vovô?)
Ambíguas fecundas adversas águas, águias
Afiadas no inferno sonoro do verso,
Espuma-espadas de amor e corte, vertendo
O fel de um coração submerso, a pulsar
A pulsar, a pulsar... Quem poderá impedir
Este ritmo suicida, a explosão delírica?
Não importa, não importa o abnegado corpo
Mas estas escamas, sílabas laminadas
Ardentias desfazendo-se em canto, vagas
De prateada e incontida ilusão...
O mais é o mar, exausto ao largo, deus
Adormecido em teus braços, como um pássaro,
Pássaro-poema lançado na gravidez
Das ondas, que te devolvem à superfície
Do texto: bóia plácida a reluzente incógnita.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Alguns outros poemas...
O mais contundente:
Claro que existe vida após a morte.
A vida dos outros.
in absentia
toda manhã a generosa fatia de mamão maduro no beiral da janela da sala entardece bicadinha até os ossos da casca
nesta manhã – sem mamão maduro – agradece a cagadinha brancoesverdeada no braço esquerdo do sofá da sala
na casa da mãe
sobre o corpo o cobertor antigo esgarçado e puído do menino que ainda fui cobre os ossos gelados mergulhados como que na friagem de um lago mas nem a quente manta com que a memória tece a alma aquece
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